Que a Justiça no Brasil é lenta e deixa a desejar, todo mundo sabe. Que ela beneficia os ricos, também! E o maior exemplo vem da mais alta côrte nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF), principalmente na pessoa do ministro Gilmar Mendes.
Ontem saiu a sentença do médico Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de reclusão por estupro e atentado violento ao pudor. Na teoria, uma pena severa, apropriada diante da monstruosidade que ele cometia com suas pacientes. Mas, na prática, abrandada por alguns fatores que — embora totalmente legais — reforçam a ideia de que a Justiça no Brasil é aplicada com mais rigor aos pobres.
O principal é que o médico, cujo registro profissional foi cassado pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo, responderá em liberdade e poderá permanecer assim até esgotar a possibilidade de seus advogados recorrerem — podendo levar anos.
Um exemplo clássico dessa benevolência da Justiça com quem tem dinheiro e influência é o caso do jornalista Pimenta Neves, assassino confesso da ex-namorada Sandra Gomide, em 2000, ainda livre apesar de ter sido condenado a 15 anos de reclusão.
Embora tenha ficado preso entre 17 de agosto e 24 de dezembro do ano passado, Roger Abdelmassih foi posto em liberdade por determinação do ministro Gilmar Mendes, do STF. Para quem não lembra, Mendes adora intervir a favor de ricos envolvidos em casos de repercussão nacional.
Ele foi o responsável pelos dois habeas corpus favoráveis ao banqueiro Daniel Dantas, preso duas vezes por ordem judicial após a Operação Satiagraha, da Polícia Federal, em 2008. Mendes também foi o defensor no STF da dispensa do diploma para exercer o jornalismo. Ah, e é ainda aquele quem o colega ministro Joaquim Barbosa acusou de envergonhar a Justiça brasileira.
Então como acreditar no Judiciário? Como não pensar que ele pune mais rigorosamente os pobres, sem recursos financeiros para pagar advogados até um processo ser julgado em última instância?
Por tudo isso, nada melhor que ser amigo do Gilmar Mendes. Assim, diante de alguma “bronca”, basta ligar pra ele ou impetrar um pedido de habeas corpus quando o ministro estiver de plantão no STF!