Categoria foi derrotada por ela mesma, ao aceitar esmola de patrões
Nove meses de luta em prol da nossa desunida classe terminaram ontem à noite, após a maioria dos jornalistas do Paraná ter concordado com a proposta patronal para o fechamento da Convenção Coletiva 2010/2011.
Em assembleias nas cidades de Curitiba, Ponta Grossa, Foz do Iguaçu e Cascavel, 110 colegas optaram por aceitar o ridículo aumento real de 0,32% -- ou R$ 6,55 -- nos salários. Outros 75 mantiveram a dignidade e recusaram a gorjeta patronal.
É lamentável que depois de 14 anos só recebendo a reposição inflacionária, a mais intensa batalha encampada pela categoria tenha sido sepultada pela fraqueza, temor e vassalagem de quem se posicionou em favor dos patrões, contra a própria classe.
Aos profissionais que tentaram prosseguir em busca de algo melhor, meu respeito -- em especial aos daqui de Foz do Iguaçu e de Cascavel. Nessas cidades, os jornalistas sabem muito bem o seu valor e mostraram não temer as ameaças de represália do empresariado, vencendo nas urnas.
Aqui na fronteira, 18 pessoas votaram não à proposta dos patrões, contra apenas três que a aceitaram. Em Cascavel, 11 ficaram ao lado da categoria; e sete, contra. Na capital do estado, 91 colegas se posicionaram pró-aumento de 0,32%; 46, contra. E em Ponta Grossa, a maior decepção: nove a zero para a oferta empresarial.
Consequências
Essa derrota, embora legítima porque expressou a opinião da maioria, certamente dificultará as próximas negociações. Vale lembrar que a próxima data-base já é em outubro. Ou seja, nem bem foi fechada a CCT, as conversas entre os sindicatos vão reiniciar.
E qual a consequência? Mais tentativas patronais de achatar a categoria, como ocorre em todo o começo de negociação. Fortalecidos pela vitória, os empresários visarão, a todo custo, a tirar direitos adquiridos dos jornalistas, como a carga horária de cinco horas, o piso salarial e as horas extras de 100%.
Aos que aceitaram o aumento (ir)real R$ 6,55 no salário, bom proveito dessa migalha. Mas saibam que, a partir de agora, um reajuste digno, capaz de compensar as perdas de 14 anos, ficará impossível de se conseguir.
E outro detalhe: a diferença salarial destes nove meses de negociação provavelmente será parcelada, ou alguém acredita que os patrões vão pagar à vista sabendo que seus vassalos aceitam qualquer esmola?
A nós que mantivemos a dignidade é difícil se conformar, porém não podemos desistir da luta, pois se isso acontecer contribuiremos ainda mais para desestruturar a profissão e sofreremos golpes piores e irreversíveis.