No
mês em que a revista Sobre Rodas (revistasobrerodas.com.br)
dedica sua edição, mais uma vez, e com total merecimento, às mulheres, vale
expor aqui uma realidade brasileira que ainda precisa ser modificada: a
diferença salarial entre os sexos. Em pleno ano de 2015, persiste a prática de
remunerar melhor (e privilegiar) o homem em muitos cargos. Em média, o sexo
masculino ganha 30% a mais que o feminino.
Pelo
menos essa é a constatação do estudo “Estatísticas de Gênero – Uma análise dos
resultados do Censo Demográfico 2010”, realizado pelo IBGE em parceria com a
Secretaria de Políticas para as Mulheres e a Diretoria de Políticas para
Mulheres Rurais e Quilombolas do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Divulgado
em outubro de 2014, o levantamento aponta que as mulheres estudam mais, entretanto
a formação ocorre em áreas que têm menor remuneração. Também mostra que elas
estão mais atuantes no mercado, porém recebem menos que os homens, mesmo tendo
aumentado o percentual de mulheres responsáveis pelas famílias e domicílios. Nas
áreas urbanas, 39,3% das famílias têm a mulher como responsável. Nos lares em
que ela é a chefe (não possui cônjuge mas sustenta os filhos), o índice sobe
para 87,4%.
Os
números do estudo revelam um avanço na década pesquisada (2000-2010), mas as
diferenças perduram. A taxa de atividade profissional subiu de 50,1% para 54,6%
entre as mulheres e elas tiveram o maior aumento real do rendimento médio: 12%.
Essa é uma conquista importante, contudo ainda percebe-se uma desigualdade,
pois o sexo feminino recebe, em média, 68% do que é pago ao sexo masculino.
No
ano de 2010, o rendimento médio dos homens era de R$ 1.587; o das mulheres, de R$
1.074. Segundo o levantamento, a menor diferença foi constatada em cidades com
mais de 500 mil habitantes. Em relação às capitais, a desigualdade na
remuneração só não diminuiu em Porto Velho (RO) e João Pessoa (PB).
Talvez
o dado mais relevante do abismo de gênero seja este: a remuneração média das
mulheres pretas ou pardas correspondia a apenas 35% da dos homens brancos (R$
727 x R$ 2.086). Ou seja, além do fator gênero, os fatores cor e raça também influenciam
no salário. Um triplo preconceito!
A
diferença entre os sexos é observada ainda entre as faixas etárias. As jovens
entre 18 e 24 ganhavam 88% do que era pago aos jovens. No outro extremo, mulheres
de 60 anos ou mais tinham rendimento equivalente a 64% do obtido entre os homens
na mesma faixa etária.
De
acordo com o estudo, em parte as diferenças são explicadas pelo índice de
empregadas domésticas e pela menor taxa de formalização feminina no mercado de
trabalho. Ironicamente, as mulheres apresentam um nível maior de instrução. Trata-se
de um contraste que desvenda uma ultrapassada característica machista da
sociedade brasileira.
Embora,
por outro lado, esteja crescendo, mas em menor escala, o espaço para as
mulheres no comando de empresas e em cargos públicos, o Brasil ainda tem muito
a evoluir no combate à discriminação de gênero – assim como em ações contra
todo tipo de preconceito que permeia a nação.