Bilhões de reais sairão dos cofres públicos para construir estádios; e depois do Mundial?
O Brasil carece de investimentos públicos em saúde, educação, segurança, infraestrutura, habitação, enfim, em diversas áreas. Essa é uma realidade incontestável em todo o território nacional. E o argumento para justificar tal situação é sempre o mesmo: a falta de dinheiro.
Mas seria verdadeira essa alegação num país que arrecada trilhões de reais por ano em impostos? Se for, tenho um questionamento a fazer: de onde o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai tirar recursos para investir na construção de estádios de futebol?
Se há dinheiro em caixa para levantar as arenas esportivas visando à Copa do Mundo em 2014, por que não há para obras de saneamento básico, casas populares, postos de saúde, creches, escolas? Ou investir no bem-estar da população brasileira não é infinitamente mais viável do que erguer estádios para um evento esportivo de somente um mês?
Claro que uma Copa do Mundo tem seu glamour, sua importância histórica, trará milhares de turistas e muito dinheiro para a economia. Entretanto, seja o montante que for, não seria nada frente ao que a sociedade poderia lucrar com o direcionamento de verbas públicas a projetos, programas e obras de seu interesse e benefício direto.
E depois da Copa, o que será dos estádios em locais com pouquíssima tradição no futebol e sem times competitivos? Alguém imagina o futuro das estruturas milionárias edificadas, por exemplo, no Amazonas, Mato Grosso e Brasília? Será que elas seriam utilizadas e mantidas corretamente após sediarem poucos jogos do Mundial?
Outra razão para não se construir obras do zero, especialmente com recursos públicos, no meu entender, é a existência de estádios nas 12 cidades-sedes. O Brasil não é considerado o país do futebol? Não são realizadas diversas competições todo ano? Então, para atender às exigências da FIFA, as estruturas já existentes não poderiam ser reformadas ou ampliadas?
O Morumbi, por exemplo, maior estádio particular do Brasil, com capacidade e condições para receber final de Taça Libertadores da América, não poderia sediar partidas da Copa? Poderia, é claro! Mas ele foi descartado porque a CBF e o Corinthians estão de conluio para o alvinegro poder, enfim, ter um estádio próprio.
Chamado provisoriamente de Itaquerão, já foi confirmado pela FIFA como sede do Mundial em São Paulo. A obra custará R$ 600 milhões, e quem será que vai pagá-la?
Só para lembrar, o BNDES já assinou contrato de financiamento com os estados da Bahia (R$ 323,6 milhões), do Amazonas (R$ 400 milhões), do Ceará (R$ 351,5 milhões) e do Mato Grosso (R$ 393 milhões). O projeto da Arena de Pernambuco está em fase final de aprovação. E a reconstrução do Maracanã também será financiada pelo banco.