Não é segredo que o universo sobre rodas é dominado pelos homens. E isso está claro não apenas no número de motoristas do sexo masculino nas vias públicas brasileiras – dois terços do total, em média. A predominância de homens se dá desde a cadeia inicial, ou seja, na linha de montagem das fábricas, passando pelos setores de autopeças, mecânicas e muitos outros diretamente ligados a veículos.
Por que isso ocorre? Talvez o maior interesse dos homens pelo segmento automotor tenha relação com a ideia – equivocada no meu entendimento – de que carro é “coisa de menino”. Esse mito começa na infância, afinal desde pequenas as crianças do sexo masculino costumam ser presenteadas, por exemplo, com veículos, e as do sexo feminino, com bonecas.
A própria sociedade convenciona quais brinquedos são “apropriados” para garotos e para garotas. Mas por que tem de ser assim? Provavelmente pelo preconceito de que bola e carrinho sejam “exclusividades” masculinas, enquanto casinhas e bonecas, do meio feminino. Talvez ainda pelo receio de que se um sexo invadir o universo do outro, isso possa refletir-se mais tarde na sexualidade do indivíduo. Pura balela! Entretanto, para pessoas conservadoras, ver meninos brincando de boneca e meninas de bola causaria, no mínimo, estranheza.
Esse direcionamento precoce do universo sobre rodas aos garotos explica o fato de todo o nicho de mercado ligado a veículos ser dominado pelos homens. Alguém conhece, por exemplo, uma oficina mecânica em que trabalham somente, ou na maioria, mulheres? Em relação aos motoristas profissionais, não é nítida a diferença entre o total de homens e de mulheres ao volante de ônibus, táxis, caminhões e demais meios de transporte? E no automobilismo, quantas pilotas guiam carros de corrida, mesmo com a existência de várias categorias?
Qual é o motivo dessa discrepância? Quem sabe porque alguns serviços do meio automotivo sejam considerados pesados para as mulheres. Talvez ainda porque a vaidade feminina as afaste do trabalho em meio a graxa, óleo e outros produtos que sujam as mãos, as unhas e as roupas. Mas provavelmente a explicação mais coerente seja a histórica falta de espaço a elas num meio dominado por homens, que não abrem às mulheres oportunidades “na praia deles”. Capacidade não as falta, o que faltam são vagas – que se existissem despertariam mais interesse nelas.
Quem perde com a pouca participação das mulheres nas atividades tipicamente masculinas é a sociedade, afinal as características inerentes ao sexo feminino poderiam contribuir e aperfeiçoar os segmentos controlados por homens. Da mesma forma, uma presença mais frequente de condutoras tornaria o trânsito menos perigoso.
O excesso de confiança e as atitudes imprudentes de muitos “pilotos” provocam acidentes numa escala bem maior que os ocasionados por deslizes femininos, mesmo considerada a diferença de proporção entre os motoristas de cada sexo. Isso se comprova por estatísticas e pela simples observação cotidiana do comportamento humano ao volante. Eu torço para que um dia essa realidade seja diferente.
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