quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

“Disque-disque” não existe; o correto é diz que diz que


Se você, caro leitor, já ouviu alguma frase em que foram empregadas as expressões “disque-disque”, “disque me disque”, “disque-diz”, saiba que presenciou um erro bastante comum na linguagem oral.

Isso porque o correto é diz que diz que ou disse que disse — do verbo dizer, pois esses termos são sinônimos de fofoca, intriga, mexerico. Portanto, nada têm a ver com o verbo discar, cuja uma das variantes é disque, que forma substantivos como disque-água, disque-gás, disque-entrega...

Vamos aos exemplos:

• Não tem nada pior que esse diz que diz que sobre a vida alheia. (E não “disque-disque”)

• O disse que disse no trabalho era contraproducente, mas cessou após as severas medidas administrativas adotadas.

Nas duas frases as locuções diz que diz que (presente) e disse que disse (passado) exprimem a ideia de intriga, fofoca, conversa fiada. Então, diante de outras frases com o mesmo sentido, não fique em dúvida sobre qual é o uso correto daquelas expressões.
 
É isso.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Comunicar algo a alguém, e não alguém de algo


Caro leitor(a), analise as opções abaixo e diga qual é a correta:

1)    O funcionário foi comunicado de sua promoção. 
2)    A promoção foi comunicada ao funcionário.
A resposta é facilmente identificada ao se prestar atenção no título deste texto. Segundo ele, comunica-se algo a alguém, nunca “alguém de (sobre) algo”. Portanto, a frase certa é a de número 2.

E qual seria a razão? Simples, o verbo comunicar — assim como dizer — só admite aquela regência. Mas não o confunda com os sinônimos informar e avisar, que têm regência dupla. Ou seja, pode-se informar e avisar alguma coisa a alguém ou alguém de alguma coisa.

Para entender melhor, acompanhe os exemplos:

• O êxito do projeto social foi comunicado ao presidente.
(Jamais: “O presidente foi comunicado do êxito...”)

Porém:

• A mudança do dia da prova foi informada hoje aos alunos.
(Aqui, foi informado algo a alguém.)

Ou:

• Os alunos foram informados da mudança do dia de prova.
(Neste caso, alguém foi informado de algo.)

E ainda:

• A companhia avisou sobre a falta de água aos moradores da Vila Augusta.

Ou:

• Os moradores da Vila Augusta foram avisados da falta de água pela companhia.

Em resumo:

Comunicar, dizer — algo a alguém;

Informar, avisar — algo a alguém ou alguém de algo.
 
É isso!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

“A lhe esperar”

O título deste texto é também o nome de uma música dos Paralamas do Sucesso. As aspas indicam um erro gramatical, que explicarei hoje. Você sabe qual é? Uma pista: tem a ver com o verbo.

Então, vamos aos esclarecimentos. O verbo esperar é transitivo direto (VTD), ou seja, não pede preposição, e tem como complemento um objeto direto — que pode ser substituído pelos pronomes o (os), a (as), no (nos), na (nas), lo (los), la (las).

Já quando o verbo é transitivo indireto (VTI), é regido por preposições, as quais completam o sentido dele como objetos indiretos. E os objetos indiretos podem ser substituídos pelo pronome oblíquo lhe (lhes).

No caso da música, o verbo esperar é transitivo direto, isto é, não exige preposição. Assim, quem espera, espera alguém; portanto o uso do pronome lhe é equivocado. Desta forma, o título da canção — ao rigor da regra gramatical — deveria ser: A esperá-lo(la).

Como se trata de uma poesia, existe a famosa liberdade poética — que permite a livre criação aos artistas. Além disso, a questão de melhor sonoridade também pode ter influenciado a escolha do nome da música.

Mas os Paralamas não são os únicos a cometer um equívoco (proposital ou não). O mesmo se dá com outros artistas, sobre os quais ainda escreverei.

É isso.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

“Mim” não faz nada, portanto não conjuga verbo


A dica de hoje visa a corrigir um erro mais comum na linguagem oral, que é exatamente o uso do pronome oblíquo mim antes de verbos no infinitivo.

Quem nunca ouviu alguém dizer algo como: “Não deu pra mim fazer o trabalho”. Ou: “Ele pediu pra mim entregar as fotos pra você”. Seja qual for a ação, nunca se deve empregar o pronome mim antes do infinitivo, pois ele não conjuga verbos.

Veja a aplicação correta desse oblíquo:

• Durante a viagem, pediram para eu ser o fotógrafo oficial.

• Meu pai disse para eu lavar o carro dele.

Outros usos do oblíquo, sem que ele conjugue verbos:

• Pra mim, ganhar ou perder aquela partida não importava; bacana foi disputar o amistoso.

• Todos cantaram parabéns pra mim na festa.

• A garota não dá bola pra mim.

Mas atenção:

O pronome oblíquo mim deve ser utilizado, obrigatoriamente, após preposições. 

Observe os exemplos:

• Entre mim e você não há nada além de amizade.

Jamais diga ou escreva “entre eu e você”.

• Os colegas falavam sobre mim e ti.

• As pessoas se voltaram contra mim e ela.

Por hoje é isso. Até a próxima.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Não, o ano não começa depois do carnaval


Nesta manhã ouvi alguém dizer: “Bom, o ano começa só depois do carnaval”. Imediatamente pensei: “Pra quem? Só se for pra você”. Esse pensamento me é recorrente sempre que presencio aquela frase, totalmente descabida de verdade, porém permeada na sociedade.

Este ano o carnaval será em 8 de março, ou seja, no 67º dia de 2011. Mesmo havendo nove meses pela frente, seria possível desconsiderar o período produtivo até aquele feriado?

No meu modo de pensar, não. O fato de muitas pessoas tirarem férias em janeiro e fevereiro, assim como as instituições de ensino, não pode sobrepor o valor do trabalho, da produção de quem iniciou o batente após a virada de ano.

A indústria parou a sua produção? Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário ainda estão em recesso? Lojas, supermercados, prestadores de serviço, enfim, estabelecimentos e órgãos de diversos segmentos encontram-se em férias coletivas? Ou, por acaso, eles trabalham em ritmo lento, a passos de tartaruga? Definitivamente não!

Diante disso, só posso acreditar que quem realmente vê o começo do ano depois do carnaval está equivocado, não observa o movimento de pessoas e carros nas ruas, os hospitais lotados, os bancos cheios, e todo o cotidiano de uma cidade. Não imagino o que esperam as pessoas para as quais 2011 terá início efetivo após 8 de março. Você saberia me dizer, caro leitor?

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Novos tempos na Assembleia Legislativa do Paraná?


O ano legislativo começou esta semana no estado. No dia 1º, tomaram posse os 54 parlamentares; no dia 2, os novos diretores da Casa.

Além dos novos ocupantes da Assembleia, o prédio abriga policiais militares, encarregados da segurança, a pedido do presidente, Valdir Rossoni, que teria sido ameaçado.

Outra novidade foi o fechamento da gráfica, que até o ano passado imprimia as publicações oficiais da Casa, inclusive os seus Diários Oficiais — alvos de investigação pela RPCTV e Gazeta do Povo. O trabalho, exemplar e premiado, resultou na descoberta e ampla divulgação de atos secretos criminosos, lesivos ao povo paranaense.

Agora, com a nova Mesa Diretora, outros diretores e a entrada de novos deputados, duas perguntas são inevitáveis: 

1)    Essas mudanças serão o bastante para moralizar o Poder Legislativo, após o recente escândalo que afetou a sua imagem?
2)    Além de fazer leis e fiscalizar o Poder Executivo, os parlamentares estarão mais atentos ao funcionamento da Casa?
As respostas serão dadas ao longo da atual legislatura. E para obtê-las, a sociedade — bem como a imprensa — deve acompanhar o andamento dos trabalhos; deve cobrar dos deputados a conduta correta em todos os seus atos; deve denunciar a existência de esquemas ilegais caso tenha conhecimento.

O desvio de verbas, a existência de funcionários fantasmas, a presença de uma quadrilha na direção da Casa serviram para mostrar a necessidade de envolvimento social na política. Os paranaenses foram lesados, desrespeitados, engrupidos, e isso não pode ocorrer novamente, porém precisam tirar uma lição positiva da revelação dos crimes cometidos por anos e anos na Assembleia do estado.