terça-feira, 28 de junho de 2011

Jornal volta a defender demissão de cobradores do transporte coletivo

Argumento, agora, é que manutenção desses trabalhadores aumentaria valor da passagem
Quinze dias após posicionar-se, no editorial, favorável à dispensa dos cobradores nos ônibus do transporte coletivo em Foz, a Gazeta do Iguaçu volta a insistir na demissão desses profissionais. Na edição desta terça-feira, alega, na página B3: “A manutenção dos cobradores no sistema de transporte público da cidade incide diretamente no preço final da passagem”.
A afirmação, extremamente apelativa, teria o objetivo de colocar a população contra a categoria? Vale lembrar que dezenas de fatores influenciam na tarifa, não apenas a presença daqueles trabalhadores no quadro das empresas.
Se o leitor não tem conhecimento, o diário pertence ao senhor Erminio Gatti — também proprietário da Viação Itaipu, integrante do Consórcio Sorriso (sorriso?), que explora o transporte público municipal.
Mais uma vez, quem prestou o desserviço à população e atacou centenas de profissionais não se identifica, assinando o texto como “Da Redação”. E, pior, sem nenhum embasamento, afirma na linha fina da matéria: “Enquanto na maioria das cidades brasileiras atividade de cobrador já foi abolida em Foz questão ainda gera discussão” (sic).
Esse argumento aparece mais duas vezes, porém sem dados nem fala de alguém que o ratifique. Segundo o IBGE, existem 5.565 municípios no Brasil. Então, como pode o jornal sustentar que em pelo menos 2.783 cidades os cobradores foram extintos dos ônibus?
Uma fonte, que pediu para não ser identificada, pois certamente sofreria represálias, revelou a este jornalista que uma forma gradual de diminuir o número de cobradores — e já ocorreria na prática — é passá-los para o lugar de alguns motoristas, que, já aposentados, continuariam a trabalhar.
Se isso estiver acontecendo, ainda assim dezenas de cobradores ficariam desempregados, pois não há estrutura nas empresas para absorvê-los em outros setores, que já contam com seus profissionais. Portanto, o diário iguaçuense demonstra não se preocupar com o desemprego e as consequências dele para muitas famílias.
O proprietário da Gazeta do Iguaçu e da Viação Itaipu, por meio de asseclas no jornal, revela à sociedade seu interesse real: faturar mais, nem que isso sobrecarregue os motoristas — como já ocorre nos micro-ônibus — e aumente o tempo da viagem ao longo do itinerário. Então, pode-se inferir sua preocupação com o lucro, em detrimento de um bom serviço aos usuários e do bem-estar de cobradores e seus dependentes.
Esse é o retrato da imprensa escrita de Foz do Iguaçu, refém de somente um diário — representante dos interesses econômicos de seu proprietário e atrelado politicamente ao governo municipal.
Não é assim que se faz jornalismo sério, profissional, com ética, isenção, pluralidade de fontes, confronto de informações...
Foz do Iguaçu merece um jornal comprometido com os leitores, que cumpra o papel social da imprensa.
É bom deixar claro que nenhum meio de comunicação é 100% isento, afinal interesses capitalistas e políticos predominam nessa área, mas isso não dá a ninguém o direito de pressionar pelo fim de uma categoria profissional por razões particulares.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Travessuras de um governador tucano

Em apenas seis meses de governo, Beto Richa já deu algumas temerosas demonstrações do seu “jeito novo” de administrar o Paraná. Uma delas foi o pedido de censura ao Blog do Esmael (http://esmaelmorais.com.br/), que ficou fora do ar por 75 dias e retornou na última terça-feira (21).
Em pleno ano 2011, o tucano revelou seu lado ditatorial, pois numa sociedade democrática não cabem atitudes típicas de um período que felizmente ficou para trás e faz tempo, acabou em 1985. Se Beto se sentiu ofendido pelo jornalista Esmael Morais, deveria ter recorrido à Justiça em busca de reparação por alguma ofensa contra a honra. Esse é um direito de qualquer cidadão brasileiro, amparado pela Constituição de 1988.
Valer-se da censura significa intolerância a críticas, característica inaceitável nos homens públicos, principalmente políticos. Essa estratégia de tentar calar quem e o que incomoda já foi vista durante a campanha eleitoral de 2010, pois quem não se lembra do pedido tucano para a não-divulgação de uma pesquisa poucos dias antes das eleições?
O pior é que alguns juízes aceitam a censura, porém, pelo bem da sociedade, outros cancelam liminares antidemocráticas. A função da Justiça é aplicar as leis elaboradas pelo Poder Legislativo. Portanto, ao mandar tirar do ar um blog, como ocorreu dia 9 de abril no Paraná, o Judiciário ignorou o direito constitucional da livre manifestação do pensamento.
Revanchismo político
Beto Richa também já mostrou outra característica de seu perfil: a incoerência, traduzida num ato de revanchismo político, com o cancelamento da aposentadoria de três ex-governadores peemedebistas (Mário Pereira, Roberto Requião e Orlando Pessuti). Sobrou até para Jaime Lerner, seu aliado político.
O argumento do tucano é que as aposentadorias canceladas seriam inconstitucionais. Podem até ser, então por que não unir legalidade e moralidade, poupando os cofres públicos dos gastos com o pagamento a todos os ex-chefes do Executivo? Isso não seria uma medida coerente e justa com os contribuintes do estado?
Quatro ex-governadores perderam o benefício, entretanto outros cinco, mais três ex-primeiras-damas, continuam recebendo — inclusive Arlete Richa, mãe de Beto e viúva de José Richa. O estado economiza R$ 96 mil por mês, mas paga R$ 192 mil. Esse é um exemplo claro de que a isonomia não existe em suas atitudes e de que a questão é, sim, política.
Nepotismo
A incoerência ainda é demonstrada pelo tucano com a nomeação de sua mulher, Fernanda Richa, e de seu irmão “Pepe”, José Richa Filho, para as recém-criadas Secretarias da Família e Desenvolvimento Social e de Infraestrutura e Logística. Beto não criticava Requião pelo nepotismo? Então, ao empregar os parentes, revela a demagogia em seu discurso.
E mais, assim como faz todo chefe de Executivo que recebe o governo de um adversário, ele constantemente alega ter assumido o Paraná endividado, contudo sua reforma administrativa, além de beneficiar o irmão e a esposa, gerou uma despesa anual extra de R$ 8,6 milhões para pagar mais 295 ocupantes de cargos comissionados. Então qual é o sentido de tanto chororô sobre as dívidas estaduais?
Privatização
Não bastassem todas essas traquinagens, a maior ainda está por vir e é bem própria de uma política neoliberal: a entrega do patrimônio público à iniciativa privada. O primeiro passo foi dado no dia 2 de maio, quando o governador encaminhou à Assembleia Legislativa o Projeto de Lei Complementar Nº 361/2011.
No que consiste esse PC? Na tentativa de alterar a Lei Complementar 94, de 2002, que criou a Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Infraestrutura do Paraná. O objetivo é agregar às funções da agência a regulação nas áreas de energia, saneamento, e tecnologia e informática.
Perceba, caro leitor, serviços públicos delegados, ou seja, repassados a empresas particulares. E o que querem os peessedebistas com essa mudança? Iniciar a tentativa de privatização da Copel, Sanepar e Celepar, pois as agências reguladoras existem, também, para fiscalizar a execução de serviços públicos e atividades econômicas de interesse público prestados pela iniciativa privada.
Esse filme de terror já foi assistido pela população durante o governo, também neoliberal, de Jaime Lerner — que implantou o pedágio no estado, vendeu o Banestado, entregou o comando da Sanepar a um grupo francês, e tentou privatizar a Copel.
Os paranaenses não podem ser lesados novamente. Para isso é necessário acompanhar a tramitação do PC 361 e suas negociações na Assembleia. E a imprensa deve — esse é o termo — exercer o seu papel social de informar as medidas do poder público, principalmente as que podem contrariar o interesse da sociedade.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Jornal de Foz usa exemplo de SP para defender extinção de cobradores

O único diário de Foz do Iguaçu deixa claro, no editorial desta segunda-feira, o seu posicionamento pelo fim da função de cobrador no transporte coletivo. A extinção seria uma forma de reduzir os custos das empresas, podendo gerar economia também aos passageiros.

Para sustentar sua posição, o jornal iguaçuense usa a realidade de São Paulo, onde um acordo entre sindicatos estaria prevendo o remanejamento dos cobradores para outras funções e até o adicional de R$ 250 para os motoristas cobrarem as passagens.

Mas por que um jornal de Foz do Iguaçu defenderia o fim de uma categoria de trabalhadores? O motivo é simples, caro leitor: o dono do diário também é proprietário de uma das empresas que exploram o transporte coletivo na cidade! Portanto, usa — e sempre usou — as páginas do periódico para defender, exclusivamente, o interesse empresarial.

Desde a implantação do sistema de catraca eletrônica, teme-se pela demissão dos cobradores. No fim do ano passado, uma malsucedida reformulação no setor deu sinais de que isso poderia concretizar-se, pois vários micro-ônibus foram incorporados à frota do Consórcio Sorriso (sorriso de quem?), que explora o transporte municipal.

Vale ressaltar que esses pequenos coletivos não contam com a figura do cobrador, provocando o acúmulo de função aos motoristas. Esse duplo trabalho tem como uma consequência o eventual atraso dos ônibus. No início do ano, os profissionais realizaram uma manifestação contra esse e outros pontos da alteração no sistema, com o irrestrito apoio do sindicato da categoria.

Qual é o papel da imprensa?

A imprensa deve mostrar a realidade e defender o interesse social, sempre pautada pela ética — que tem na imparcialidade o seu preceito fundamental. Mas isso passa longe do diário iguaçuense, cuja posição é sempre favorável às empresas do transporte coletivo.

Um dos exemplos desse posicionamento ficou claro no fim do ano passado, quando a população e os profissionais estavam totalmente insatisfeitos com as mudanças efetuadas no sistema. As manifestações, os protestos, a realidade da época foram ignorados pelo jornal, que só ouviu o povo uma vez: quando os ônibus deixaram de circular numa manhã.

O periódico usou, parcialmente, os usuários para criticar a paralisação dos trabalhadores. Entretanto, o mesmo espaço foi negado para mostrar a insatisfação geral dos passageiros com a mudança efetuada pela prefeitura, beneficiando as empresas e gerando transtornos à população naquele momento.

E hoje, no editorial, vê-se nitidamente a pressão empresarial pela precarização do sistema, sob o argumento de que o exemplo de São Paulo “pode servir de lição para Foz do Iguaçu”. Ainda segundo o texto, “o sistema é integrado e quase todo automatizado por meio do uso do cartão, o que praticamente anularia a função do cobrador”.

Para tentar disfarçar seu pensamento, o editorialista chega a sugerir uma readequação dos profissionais, isto é, que os cobradores sejam remanejados para outras funções — o mesmo argumento usado em São Paulo. 

Aqui entre nós, amigo leitor, você acredita que centenas deles teriam espaço — em outras funções — nas empresas, as quais já contam com mecânicos, manobristas, motoristas e outros trabalhadores em seus quadros? Se elas realmente quisessem manter os cobradores empregados, por que os tirariam de sua atividade-fim?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Não se deixe contaminar pelo gerundismo


No texto de hoje estarei explicando por que estar evitando o uso indevido do gerúndio, o chamado gerundismo. Que tal, caro leitor, você apreciou a frase anterior? Ela lhe parece familiar?

Certamente quem já conversou com um teleatendente ouviu o gerúndio ser empregado após alguma forma verbal de ‘estar’. O excesso dessa “fórmula” (verbo estar + gerúndio) até virou motivo de gozação, porém contaminou a sociedade, sendo frequente fora do universo do telemarketing. E aí está o problema.

A linguagem oral e escrita deve ser concisa e simples para passar a mensagem mais claramente. Só por essa razão o gerundismo deve ser esquecido, pois dá à sentença um rebuscamento desnecessário. E mais, quem tenta rebuscar a linguagem dessa forma consegue o efeito contrário, porque ela “dói” nos ouvidos. 

Mais um motivo para evitar o uso do ‘estar’ (ou alguma variante) seguido de outro verbo no gerúndio é que esse tipo de construção enfraquece a frase, como se não houvesse a garantia do êxito de uma ação. Veja alguns exemplos:

• Estará havendo uma reunião amanhã. 

• A ligação vai estar sendo transferida.

Note que se a utilização do gerundismo coloca em dúvida tanto a realização da reunião quanto o sucesso da transferência da ligação. Isso não ocorreria se as frases fossem as seguintes:

• Vai haver uma reunião amanhã.

• Haverá uma reunião amanhã.

• A ligação será transferida.

Mesmo que não haja a reunião ou que a ligação não seja transferida por algum motivo, as sentenças acima dão mais certeza ao ouvinte ou leitor.

É bom destacar que a crítica ao gerundismo não condena o uso do gerúndio. Ele pode ser utilizado, desde que não em excesso.

É isso. Até breve.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Acerte na prosódia, ou acentuação, das palavras


Algumas palavras da língua portuguesa causam dúvida sobre a sua correta acentuação, podendo levar ao cometimento de erros na grafia ou na pronúncia (ortoépia, tema do texto anterior).

Na gramática, a prosódia é a parte da fonética que trata da acentuação dos vocábulos. Ao saber acentuar alguns termos mais duvidosos, diminui-se a chance de errar ao escrevê-los e vocalizá-los.

É bom lembrar que a acentuação não se limita à colocação dos sinais de agudo e circunflexo, mas também abrange a sílaba tônica não acentuada. Por isso pode-se dizer que a prosódia engloba a ortoépia.

O equívoco de acentuação (prosódia) consiste em transformar uma palavra paroxítona (sílaba tônica é a penúltima) em oxítona (sílaba tônica é a última), uma proparoxítona (sílaba tônica é a antepenúltima) em paroxítona, ou uma proparoxítona em oxítona.
Abaixo, alguns termos que podem causar dúvida de prosódia, relacionados de acordo com a correta acentuação tônica:

Oxítonas: cateter, condor, hangar, mister, Nobel, novel, recém, refém, ruim, sutil, ureter...

Paroxítonas: avaro, avito, barbárie, caracteres, cartomancia, ciclope, erudito, ibero, gratuito, ônix, poliglota, pudico, rubrica, tulipa...

Proparoxítonas: aeródromo, alcoólatra, álibi, âmago, antídoto, elétrodo, lêvedo, protótipo, quadrúmano, vermífugo, zéfiro...

Mesmo com essa divisão, algumas palavras admitem variação de prosódia, como: acrobata e acrobata; crisântemo e crisântemo; Oceânia e Oceania; ortoépia e ortoepia; projétil e projétil; réptil e reptil; xérox e xerox...

Outras têm significados diferentes, conforme a acentuação: valido e válido; vivido e vívido...