O único diário de Foz do Iguaçu deixa claro, no editorial desta segunda-feira, o seu posicionamento pelo fim da função de cobrador no transporte coletivo. A extinção seria uma forma de reduzir os custos das empresas, podendo gerar economia também aos passageiros.
Para sustentar sua posição, o jornal iguaçuense usa a realidade de São Paulo, onde um acordo entre sindicatos estaria prevendo o remanejamento dos cobradores para outras funções e até o adicional de R$ 250 para os motoristas cobrarem as passagens.
Mas por que um jornal de Foz do Iguaçu defenderia o fim de uma categoria de trabalhadores? O motivo é simples, caro leitor: o dono do diário também é proprietário de uma das empresas que exploram o transporte coletivo na cidade! Portanto, usa — e sempre usou — as páginas do periódico para defender, exclusivamente, o interesse empresarial.
Desde a implantação do sistema de catraca eletrônica, teme-se pela demissão dos cobradores. No fim do ano passado, uma malsucedida reformulação no setor deu sinais de que isso poderia concretizar-se, pois vários micro-ônibus foram incorporados à frota do Consórcio Sorriso (sorriso de quem?), que explora o transporte municipal.
Vale ressaltar que esses pequenos coletivos não contam com a figura do cobrador, provocando o acúmulo de função aos motoristas. Esse duplo trabalho tem como uma consequência o eventual atraso dos ônibus. No início do ano, os profissionais realizaram uma manifestação contra esse e outros pontos da alteração no sistema, com o irrestrito apoio do sindicato da categoria.
Qual é o papel da imprensa?
A imprensa deve mostrar a realidade e defender o interesse social, sempre pautada pela ética — que tem na imparcialidade o seu preceito fundamental. Mas isso passa longe do diário iguaçuense, cuja posição é sempre favorável às empresas do transporte coletivo.
Um dos exemplos desse posicionamento ficou claro no fim do ano passado, quando a população e os profissionais estavam totalmente insatisfeitos com as mudanças efetuadas no sistema. As manifestações, os protestos, a realidade da época foram ignorados pelo jornal, que só ouviu o povo uma vez: quando os ônibus deixaram de circular numa manhã.
O periódico usou, parcialmente, os usuários para criticar a paralisação dos trabalhadores. Entretanto, o mesmo espaço foi negado para mostrar a insatisfação geral dos passageiros com a mudança efetuada pela prefeitura, beneficiando as empresas e gerando transtornos à população naquele momento.
E hoje, no editorial, vê-se nitidamente a pressão empresarial pela precarização do sistema, sob o argumento de que o exemplo de São Paulo “pode servir de lição para Foz do Iguaçu”. Ainda segundo o texto, “o sistema é integrado e quase todo automatizado por meio do uso do cartão, o que praticamente anularia a função do cobrador”.
Para tentar disfarçar seu pensamento, o editorialista chega a sugerir uma readequação dos profissionais, isto é, que os cobradores sejam remanejados para outras funções — o mesmo argumento usado em São Paulo.
Aqui entre nós, amigo leitor, você acredita que centenas deles teriam espaço — em outras funções — nas empresas, as quais já contam com mecânicos, manobristas, motoristas e outros trabalhadores em seus quadros? Se elas realmente quisessem manter os cobradores empregados, por que os tirariam de sua atividade-fim?
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