quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Como reconhecer o bom jornalismo

Observações simples permitem ao público saber se veículos de comunicação cumprem seu papel 

Basicamente, a função da imprensa é apurar fatos de interesse da sociedade e noticiá-los. Os canais para essa atividade são muitos, desde os meios impressos, como jornais e revistas, passando pelos eletrônicos, a exemplo de rádios e TVs, até os mais novos, sites e blogs, que se multiplicam rapidamente com a expansão da internet.

Assim, de forma sucinta, pode parecer que o exercício do jornalismo é simples, ao alcance de qualquer pessoa. Na realidade não é exatamente isso, afinal a atividade jornalística exige alguns requisitos para garantir um trabalho bem-feito.

O primeiro passo é ter a graduação na área, ou seja, cursar uma faculdade. É nela que o futuro profissional estudará uma série de disciplinas, orientado por professores e jornalistas, as quais lhe darão uma formação específica essencial para entrar no mercado após quatro anos de estudos e da realização de muitos trabalhos acadêmicos e provas.

Vencida essa etapa, inicia-se outra igualmente importante: a aquisição da experiência profissional que só a prática cotidiana possibilita. É por meio dela que o recém-formado se desenvolve, usando os conhecimentos adquiridos no curso de jornalismo e, sobretudo, seu talento, o dom que o fez seguir esse caminho. E é exatamente no mercado de trabalho que é possível saber se a atividade jornalística está sendo bem executada.

O público-alvo dos meios de comunicação pode reconhecer a qualidade do exercício profissional a partir de algumas simples observações. A mais básica é tentar identificar nos textos — principalmente nos opinativos — a presença de informações comprometidas, isto é, que estão colocadas com o objetivo de influenciar o leitor, ouvinte ou telespectador.

Infelizmente essa prática é comum, a partir das ideologias políticas e interesses econômicos presentes nos meios de comunicação, e fere o princípio mais elementar do bom jornalismo: a isenção. A independência, a correta apuração dos fatos, a pluralidade de fontes, o respeito com o público compõem a ética do profissional e revelam o grau de comprometimento da mídia.

O jornalismo — tanto o jornalista quanto o veículo em que esse atua — tem compromissos, funções sociais. Mais do que informar, ele deve promover a educação, a cidadania, o desenvolvimento do senso crítico na população. Mas para cumprir esses papéis, não pode estar atrelado a nenhum interesse secundário.

A independência exaltada pelos meios de comunicação de massa é relativa — em muitos casos inexistente — e deve ser vista com cuidado. Jornais, revistas, rádios e TVs são empresas. Como todos sabem, empresas visam ao lucro, por isso estão ligadas a grupos econômicos e políticos. Então, adotam uma ideologia que é repassada em seus produtos finais, a partir da mão-de-obra dos jornalistas — funcionários que necessitam do emprego para sobreviver, mas que não devem abrir mão de seus princípios.

A imprensa séria é aquela que critica nos momentos certos, que não acoberta fatos nem protege pessoas, mas também aquela que mostra e ressalta iniciativas merecedoras de reconhecimento. A partir do momento em que se assume uma linha editorial excessivamente combativa ou defensiva, o compromisso com a sociedade deixa de existir, é deixado em segundo plano, descaracterizando a verdadeira finalidade da ciência social que é o jornalismo. 
(Texto publicado no site Megafone em 17 de novembro de 2008)

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