quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Vinte anos sem o poeta do rock

Cazuza, um dos melhores compositores brasileiros, partiu há duas décadas, mas ainda permanece vivo em suas músicas 

Dia 7 de julho de 1990, há exatos 20 anos, encerrava sua passagem pelo mundo físico um dos melhores compositores do rock nacional. Cazuza, batizado Agenor de Miranda Araújo Neto, perdia a luta contra a AIDS no Rio de Janeiro, para a tristeza de milhares de fãs.
Lembro-me de quando recebi a notícia, por meio de uma amiga de minha irmã. Na época com 16 anos, sofri um baque, talvez o mesmo de pessoas pelo Brasil todo. Parece que foi ontem, tamanho o impacto de ter visto chegar ao fim a vida do grande roqueiro-poeta da música brasileira.
Aos 32 anos se apagava a luz terrena de Cazuza, um artista bastante controverso, cuja genialidade de suas composições era afetada pelo seu comportamento exagerado e sem pudor. Muitos não entendiam a personalidade dele e o condenavam por suas atitudes mais escrachadas.
Na realidade ele era verdadeiro, traduzia seus sentimentos em belas músicas, atos e palavras incontidas de protesto diante da situação política, econômica e social do país naquela época. Seus vícios e comportamento sexual eram públicos, contudo nada diferentes dos de milhares de pessoas “anônimas”, por isso recebia críticas de conservadores, para os quais Cazuza não poderia ser exemplo de artista.
Peculiaridades comportamentais à parte, o grande destaque de sua vida é uma obra musical extemporânea. Seja como vocalista do Barão Vermelho, rasgando letras fortes no mais puro rock-and-roll, ou na carreira solo, cantando o amor ou atacando a burguesia, o poeta marca a sociedade e agrada aos fãs com um repertório singular, inigualável.
De 1982 a 1985 ele dá voz a uma das principais bandas de rock do Brasil, com músicas como Pro dia nascer feliz, Bete Balanço, Maior abandonado, entre tantas em parceria com Roberto Frejat e outros “barões”. Mas com sua saída da banda, ainda em 85, é possível conhecer o outro lado do artista contestador, polêmico.
Em seus seis discos solo, Cazuza faz parceria com vários artistas da música brasileira, roqueiros e ícones da MPB, mostrando uma faceta eclética, herança da convivência com músicos que frequentavam sua casa desde a infância — seu pai, João Araújo, era diretor da gravadora Som Livre.
Até o último disco — póstumo, Por aí — lançado em 1991, ele escreve e grava canções como Exagerado, Vai à luta, Ideologia, O tempo não para, Faz parte do meu show, e muitas outras ainda vivas e atuais ao longo destes 20 anos.
Paralelamente à carreira solo, Cazuza luta contra o vírus HIV, causador de uma nova doença, a AIDS. De 1987 até 1990, ele viaja muitas vezes para Boston, nos Estados Unidos, para se tratar — só em 1988 foram oito viagens. Mesmo sentindo os efeitos da doença, o poeta não deixa de trabalhar e intensifica sua produção.
O ponto final de sua intensa vida e da brilhante carreira se dá na manhã do dia 7 de julho de 1990, na casa dos pais João e Lucinha Araújo. Sua morte comove a nação, mas desperta em Lucinha e amigos a vontade de continuar a luta. Ainda naquele ano, ela funda a Sociedade Viva Cazuza com a intenção de assistir crianças e adolescentes portadores de HIV e de prestar assistência a adultos em tratamento na rede pública de saúde do Rio de Janeiro.
Para saber mais sobre a vida de Cazuza, acesse www.cazuza.com.br. O site da Sociedade Viva Cazuza é www.vivacazuza.org.br.

(Texto publicado no site Megafone em 7 de julho de 2010)

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