quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O “circo” foi embora...

Após uma semana em Foz do Iguaçu, militares levantaram acampamento; rotina na fronteira volta à normalidade 

Enfim a Operação Fronteira Sul II bateu em retirada. Os militares voltaram aos seus batalhões, e aduanas e rodovias não contam mais com a presença de soldados — armados e vendo na população um inimigo a ser vigiado.

O clima voltou ao normal, sem a sensação que nos remete ao passado, a pior época vivida no Brasil, quando o Exército acabou com a democracia, atribuiu-se a função de governar o país, combateu aqueles que se contrapuseram, perseguiu, prendeu, torturou e assassinou centenas de brasileiros que não se subordinaram à realidade imposta na base da força.

Felizmente esse período ficou para trás, porém as lembranças estão vivas na memória de muitas pessoas, principalmente daquelas que sofreram nas mãos ensangüentadas de uma força golpista ou dos familiares dos cidadãos que perderam a vida por lutar pela redemocratização do país.

Hoje em dia a presença militar nas ruas é rara, felizmente. Na maior parte do tempo, os militares permanecem dentro de seus quartéis, longe dos olhos civis. Em Foz do Iguaçu, são vistos apenas correndo nas imediações do batalhão ou em alguma atividade dentro da unidade.

Mas nos últimos sete dias, vários homens de tal força invadiram a cidade. Chegaram de outras regiões com um aparato bélico formado por armas, barcos, helicópteros, enfim, parte de sua estrutura de repressão. Instalaram-se e começaram a exibição — coberta pela imprensa — pelo Rio Paraná, no céu da fronteira e nas aduanas e BR-277. Sempre acompanhados por órgãos da segurança pública, o que aumentou a dimensão do “espetáculo”, porém amenizou uma visão macabra de ver apenas militares exercendo o “poder” sobre civis.

“Sucesso”
Concluída a operação, o porta-voz da Fronteira Sul relata à imprensa o sucesso, o resultado alcançado ao fim da semana de controle e fiscalização na cidade. Segundo ele, com base em informações da Receita Federal, as apreensões caíram entre 70% e 80%. “Isso para nós é um denotativo significativo do sucesso da operação. Indica que a presença do Estado, com seus meios, com o seu aparato, funciona, tem sucesso e traz segurança e tranqüilidade para a sociedade”, declarou.

É óbvio que a presença militar inibiria a atuação de contrabandistas, traficantes e outros criminosos. Isso ocorre toda vez que a fiscalização aumenta, seja ela feita por qualquer força de segurança pública. Entretanto, o “circo” foi desmontado, e a rotina fronteiriça voltou ao normal. E agora? Agora cabe aos organismos públicos legítimos, isto é, cuja missão institucional é reprimir aquelas atividades criminosas, continuarem seu trabalho.

Então, na realidade, nada mudou na fronteira. O que houve foi um período de sete dias de recesso, de férias forçadas ao crime organizado. Ou seja, a operação foi paliativa e serviu para consumir recursos públicos e para pautar a imprensa. Era essa a meta da ação militar? Parabéns, comandantes, ela foi cumprida à risca.

(Texto publicado no site Megafone em 25 de outubro de 2008)

Nenhum comentário:

Postar um comentário