Apesar de não mais ser exigida, a graduação proporciona conhecimentos que a simples prática jamais oferecerá
O dia 17 de junho de 2009, uma quarta-feira, entra para a história como data de luto ao jornalismo brasileiro, com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de desobrigar a formação universitária para se trabalhar regularmente na imprensa. Assim, a graduação superior em jornalismo não é mais um requisito básico para conseguir o registro profissional.
Senhores de si, todo-poderosos por tomarem as mais importantes decisões judiciais do país, oito ministros votaram pela queda da necessidade do diploma, sepultando a esperança de 80 mil jornalistas de que a maior corte brasileira entendesse o esforço da categoria para não entrar em degradação.
Mesmo com todo o trabalho preliminar feito pela Fenaj, sindicatos e profissionais, com o apoio de várias entidades, os “senhores do destino” resolveram desqualificar toda uma classe, sem ao menos conhecer a realidade nacional, especialmente a do interior, e atender ao interesse patronal paulista — e por extensão de todo o Brasil.
Apesar desse revés, que abre a lacuna para a entrada ou a permanência de “jornalistas” práticos na profissão, ainda continuarão a existir os bancos escolares, nos quais se aprende muito mais do que técnicas para escrever.
Longe de poder ser comparadas com cursos técnicos, que em poucos meses “capacitam” pessoas para o mercado de trabalho, as faculdades de Comunicação Social com habilitação em jornalismo oferecem um cabedal de conhecimentos e experiências que a simples e tão-somente prática cotidiana jamais será capaz de proporcionar.
Durante quatro anos, os alunos são orientados por profissionais qualificados e estudam dezenas de matérias, cujo conteúdo é essencial para uma formação teórica e prática. É na faculdade que os futuros profissionais têm acesso a livros, laboratórios, aulas práticas, pesquisas, e ainda participam de seminários, congressos, palestras, debates, projetos de extensão. Enfim, um conjunto de recursos e valores que o prático da área não terá.
Mercado
A obrigatoriedade do diploma não existe mais, porém as empresas jornalísticas que realmente prezam pela qualidade do material levado ao seu público-alvo, cujos critérios de contratação são sérios, baseados na competência, devem manter como requisito a necessidade da formação específica em jornalismo.
Entretanto, a decisão equivocada e leviana do STF também abre brechas para a degradação profissional. E isso deve ocorrer a partir do momento em que aproveitadores ou empresários inescrupulosos — controladores da mídia — começarem a contratar desqualificados para atender a seus interesses políticos e econômicos.
A ética está em xeque no jornalismo; é verdade que um diploma não a garante 100% numa pessoa, afinal também há a questão de caráter, de índole humana. Mas os valores de alguém que estudou o jornalismo em si, suas consequências, sua finalidade, capaz de entender seu papel social, certamente são mais amplos do que os das pessoas que ingressaram — ou vão ingressar — na área muitas vezes sem saber o básico: escrever.
Neste momento de indignação dos profissionais regularizados, formados, qualificados em instituições superiores de qualidade, é necessário não esmorecer. Se os sindicatos não podem mais atuar na fiscalização, devem lutar pelo aprimoramento do ensino. Mesmo com a infâmia cometida pela corte suprema, os cursos de jornalismo ainda vão existir. Então, o foco na graduação precisa ser fortalecido, para que as pessoas que optem por estudar entrem em vantagem no mercado de trabalho — o verdadeiro “separador do joio e do trigo” —, que se levado a sério saberá selecionar profissionais.
(Texto publicado no site Megafone em 19 de junho de 2009)
Senhores de si, todo-poderosos por tomarem as mais importantes decisões judiciais do país, oito ministros votaram pela queda da necessidade do diploma, sepultando a esperança de 80 mil jornalistas de que a maior corte brasileira entendesse o esforço da categoria para não entrar em degradação.
Mesmo com todo o trabalho preliminar feito pela Fenaj, sindicatos e profissionais, com o apoio de várias entidades, os “senhores do destino” resolveram desqualificar toda uma classe, sem ao menos conhecer a realidade nacional, especialmente a do interior, e atender ao interesse patronal paulista — e por extensão de todo o Brasil.
Apesar desse revés, que abre a lacuna para a entrada ou a permanência de “jornalistas” práticos na profissão, ainda continuarão a existir os bancos escolares, nos quais se aprende muito mais do que técnicas para escrever.
Longe de poder ser comparadas com cursos técnicos, que em poucos meses “capacitam” pessoas para o mercado de trabalho, as faculdades de Comunicação Social com habilitação em jornalismo oferecem um cabedal de conhecimentos e experiências que a simples e tão-somente prática cotidiana jamais será capaz de proporcionar.
Durante quatro anos, os alunos são orientados por profissionais qualificados e estudam dezenas de matérias, cujo conteúdo é essencial para uma formação teórica e prática. É na faculdade que os futuros profissionais têm acesso a livros, laboratórios, aulas práticas, pesquisas, e ainda participam de seminários, congressos, palestras, debates, projetos de extensão. Enfim, um conjunto de recursos e valores que o prático da área não terá.
Mercado
A obrigatoriedade do diploma não existe mais, porém as empresas jornalísticas que realmente prezam pela qualidade do material levado ao seu público-alvo, cujos critérios de contratação são sérios, baseados na competência, devem manter como requisito a necessidade da formação específica em jornalismo.
Entretanto, a decisão equivocada e leviana do STF também abre brechas para a degradação profissional. E isso deve ocorrer a partir do momento em que aproveitadores ou empresários inescrupulosos — controladores da mídia — começarem a contratar desqualificados para atender a seus interesses políticos e econômicos.
A ética está em xeque no jornalismo; é verdade que um diploma não a garante 100% numa pessoa, afinal também há a questão de caráter, de índole humana. Mas os valores de alguém que estudou o jornalismo em si, suas consequências, sua finalidade, capaz de entender seu papel social, certamente são mais amplos do que os das pessoas que ingressaram — ou vão ingressar — na área muitas vezes sem saber o básico: escrever.
Neste momento de indignação dos profissionais regularizados, formados, qualificados em instituições superiores de qualidade, é necessário não esmorecer. Se os sindicatos não podem mais atuar na fiscalização, devem lutar pelo aprimoramento do ensino. Mesmo com a infâmia cometida pela corte suprema, os cursos de jornalismo ainda vão existir. Então, o foco na graduação precisa ser fortalecido, para que as pessoas que optem por estudar entrem em vantagem no mercado de trabalho — o verdadeiro “separador do joio e do trigo” —, que se levado a sério saberá selecionar profissionais.
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