quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Financiamento público, uma “piada” de mau gosto!

Entre os principais pontos da polêmica, mas necessária, reforma política brasileira — em trâmite na Câmara dos Deputados — está um que atinge diretamente todos nós contribuintes, que trabalhamos cinco meses por ano para suprir o caixa do governo através dos impostos pagos. Trata-se do financiamento público de campanhas eleitorais, uma proposta descabida num país como o Brasil, porém defendida por muitos como uma forma de frear a troca de favores e os “esquemões”, infelizmente tão comuns no país.
A realidade orçamentária nacional não permite cogitar a possibilidade de destinar dinheiro público para custear os gastos eleitorais. Afinal, seriam investidos milhões de reais que certamente deixariam de ser aplicados em áreas primordiais ao desenvolvimento do Brasil e ao bem-estar da população.

Não é necessário ser um profissional do setor econômico para tirar essa conclusão, basta simplesmente acompanhar os fatos que ocorrem dia após dia no país para saber que a educação, a saúde, a segurança pública e a geração de empregos, entre outras áreas, deixam a desejar por falta de orçamento. Ou a morte em filas de espera em hospitais públicos e a guerrilha urbana não seriam exemplos concretos de uma realidade social que precisa mudar através de investimento do governo federal?

Pagar para eleger mensaleiros e sanguessugas?


Não obstante, a classe política brasileira — que todos os dias dá mostras repugnantes de como é constituída — não tem nem merece credibilidade para receber dinheiro do contribuinte, massacrado pelos impostos presentes em absolutamente tudo o que paga.

Se hoje em dia há indignação — bastante acanhada por sinal — da sociedade diante de escândalos no campo político, a possibilidade de financiar a campanha de parlamentares que legislarão em causa própria e para interesses de terceiros, que não os seus eleitores, causa revolta antecipadamente.

Pagar para levar ao poder mensaleiros e sanguessugas é um imenso absurdo e deveria ser também uma preocupação do cidadão brasileiro — pelo menos daquele já consciente dos exemplos de má utilização de cargos eletivos num país de dimensões continentais como é o Brasil.

Financiamento privado por baixo dos panos


Não sejamos inocentes, pois mesmo com toda a fiscalização que se possa implantar, o financiamento privado nunca deixaria de existir. Ou alguém é capaz de imaginar esta cena: “Não, não podemos aceitar sua contribuição, senhor empresário. Nosso partido está recebendo recursos públicos e vamos honrar esse compromisso”. Surreal!

Nem a mais singela pessoa poderia crer que o caixa dois acabaria, que a ética passaria a predominar nas campanhas eleitorais, que partidos e candidatos rejeitariam ou deixariam de procurar capital privado para empregar numa disputa insana pelo poder... Devemos ser realistas. 

(Texto publicado no site Megafone em 16 de junho de 2008)

Nenhum comentário:

Postar um comentário